

Imperatriz Cubango


Ficha Técnica:
Presidente: Marcus Lopes
Carnavalesco: Fábio Henriques
Intérpretes: Thiago Brito e Millena Wainer
Autores do Enredo: Elídio Fernandes Jr. e Marcus Lopes
"De Liberdade à Igualdade"
O Desfile
-- alas | -- Alegorias | -- Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira
Ordem do Desfile (Grupo ---)
--º escola a desfilar (---)
Classificação
--

Sinopse

Autores: Elídio Fernandes Jr e Marcus Lopes
Carnavalesco: Fábio Henriques
De Liberdade à Igualdade
Sinopse:
Histórico do Enredo:
“Os negros
Trazidos lá de além-mar
Vieram para espalhar
suas coisas transcendentais
Respeito
Ao céu, à terra e ao mar
Ao índio veio juntar
O amor à liberdade
A força de um baobá
Tanta luz no pensar
Veio de lá…”
Somos todos umas misturas de idos e vindos. Somos toda essa gente escravizada e ainda sua ancestralidade. Quando nos olhamos num espelho não conseguimos ver todas as nossas dimensões: apenas a humana. Temos várias cores em nossa alma, cada uma representando um traço de nossos antepassados, inclusive daqueles que nem fazemos ideia de quem são, e muito menos de seus nomes, origens, planos e sonhos. Não temos consciência de tudo que nos deixaram. Mas, tem uma história que quero lhes contar: a minha.
Há muitos anos um jovem quimbundo fundou, entre os rios Cuanza, Dande e Lucala, o Reino de Ndongo, onde nasceu uma princesa que ficou conhecida como Fayola Ndongue, aquela que caminha com sorte e honra. Era um reino próspero, que dominava o ferro, riqueza daquela região. Os ndongues eram grandes guerreiros que lutavam irmanados a outros reinos contra os portugueses. E nossa princesa cresceu neste universo, aprendendo seu valor e a importância de defender seu povo.
Mas em dado momento, os portugueses conseguiram aliados e foram aos poucos se impondo territorialmente, vencendo batalhas. Até que Fayola, pela primeira vez, protagonizou ações, se mostrando dominadora das artes da guerra e grande negociadora: com habilidade, conquistou, na mesa de negociação praticamente tudo pelo que seus opositores haviam batalhado, reacendendo a chama de Ndongo. Coordenou a reconstrução de seu reino, com forte aparato de defesa articulado a um parlamento para tomar decisões mais justas para seu povo. Chegaram a produzir tanto algodão, milho, feijão e banana que seus excedentes eram comercializados, o que garantia ainda melhores condições para todos. Contudo, a invasão lusitana não era sua única preocupação: tinha que se defender dos ataques de inimigos mais tradicionais: os jagas, um povo de guerreiros saqueadores. E foi numa dessas batalhas que, traída pelo poder, acabou aprisionada e escravizada, sendo trazida para o Brasil…
Em meio a isso tudo, uma outra nobre, de origem austríaca, Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena. Ela, aos 20 anos, se casou à distância e por procuração com um homem que nunca havia visto: o futuro Dom Pedro I. Para consumar a união, Leopoldina embarcou em uma viagem de navio de seis meses de duração, rumo a um continente que o mundo pouco conhecia. Na tripulação, trouxe pintores, cientistas e botânicos europeus, conhecida como Missão Científica Austríaca, para catalogarem a fauna e flora brasileiras. Mulher forte, ativa e preparada para assumir responsabilidades da realeza, Leopoldina passou a se abrasileirar nos modos, admirando cada vez mais sua nova terra que a ela ia se revelando.
Em dado momento as duas se cruzaram: uma escravizada e a outra Imperatriz. Foi quando Leopoldina logo percebeu a realeza de Fayola. E não se afastaram mais em vida. Estas duas histórias se cruzaram para a nossa sorte.
Leopoldina tinha poder de nobre e começou a defender questões que se associavam aos ideais traduzidos pela vida da princesa ndongue. Tanto que chegou a assumir papel determinante em nossa independência – sim, foi ela e não o marido: a cena do Ipiranga é pura fantasia… O “fico” também foi declarado primeiro por ela…ele só declarou depois… Leopoldina tornou-se, também, ativa no que se diz respeito à abolição dos escravos, antes mesmo de existir um movimento formal dedicado à abolição por aqui. Ela chegou a vender inúmeras joias para comprar a alforria de escravos e, junto a José Bonifácio, sempre defendeu a libertação dos negros escravizados.
Quando faleceu – e há relatos que ecoam até hoje sobre isso – conta-se que os negros andavam pela rua gritando “Nossa mãe se foi! Nossa mãe se foi!”…
Mas ela, elas, uma e outra, ainda estão em mim, ainda estão em nós. Somos frutos de seus ideais. Enfim: vem de lá? Vem dali? De acolá?… Atravessando tempos e espaços e conhecendo e reconhecendo nossa história, aqui estamos nós e…
“Pela tua voz,
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais dos seringais dos algodoais…
Vozes das plantações da Virgínia
Dos campos das Carolinas,
Alabama
Cuba,
Brasil
(…)
Vozes dos engenhos dos banguês das tongas dos eixos dos pampas das usinas
Vozes do Harlen District South
Vozes das sanzalas
(…)
Vozes de toda a América, vozes de toda a África
Vozes de todas as vozes
(…)
Gerando, formando, anunciando
o dia da humanidade
O DIA DA HUMANIDADE”
Temos uma herança não física que não possui nenhum filtro, chegou tudo para cada um de nós. E atravessando um mar atlântico cheio de incertezas e dor, chegaram várias pessoas escravizadas, nobres, inclusive nossa princesa. Ancestrais que, como ela, deixaram sua marca para que cada um de nós soubesse quem somos e de onde viemos. Marcas que temos e que muitos de nós, ainda hoje, não conseguem ver diante do espelho. Mas sim, temos esta rica herança, vasta herança…uma herança que se fez mestiça iniciada por estas terras, nas senzalas…
“Repousem as memórias
Descanse o sangue já vertido pela terra.
Estão presentes os heróis
Em todos nós
O povo inteiro!”
Sim…Essa sou eu, sou a história e sou o carnaval. Sou espelho de nosso povo. E como ele…
“Nasci do Negro e do Branco
E quem olhar para mim
É como se olhasse
Para um tabuleiro de xadrez:
A vista passada depressa
Fica baralhando cor
No olho alumbrado de quem me vê.
Mestiço!”
Dos quilombos de ontem, elementos desestabilizadores dos grandes poderes àquela época, símbolos da fuga da exploração, aos quilombos de hoje… Que representam, assim como eu, a resistência e continuidade da luta pela preservação identitária. Sou de negra-nobreza-raiz-babobá, mas também sou de branca influência que respeitou essa ancestralidade. Sim, sou eu! Eu que assim como tantos outros lutaram e ainda lutam para manter sua história refletida nos dias de hoje com…
“Mãos que moldaram em terracota a beleza e a serenidade do Ifá
(…)
Mãos, mãos negras que em vós estou sentindo!
Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita e nem a rosa-dos-ventos
Mãos que da terra, da árvore, da água e da música das nuvens
Beberam as palavras das corás, dos quissanges e da timbala que o mesmo é
Dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração.
Mãos que da terra, da árvore, da água e do coração tam-tam
Criasteis religião e arte, religião e amor.
Mãos, mãos pretas…como em vós estou chorando.”
Identidade não é cor de pele, formato de olhos ou jeito de cabelo. Inclui! E vai muito além disso: Estou com você e somos marcas de culturas que se misturaram independente de quereres pessoais. Está em mim. Está em você. Ah, esse nosso jeito de ser… que precisa recobrar suas raízes na memória, nossa história, nossa cultura… Somos gente constituída com multifacetadas mãos num diálogo passado-presente-futuro!
Quantas Anastácias ainda precisaremos ter, ricas em beleza e oratória que estimulou que fossem à luta? Quantos líderes Zumbis precisaremos a guiar os excluídos? Quantos Joões Cândidos precisarão se rebelar contra a discriminação e a igualdade? Quantas Mães Andressas liderarão seu povo de santo com garra e fé na luta pela liberdade religiosa? Quantos Abdias do Nascimento precisarão lutar no meio político em defesa do povo negro?
Quantos Jacksons do Pandeiro levantarão, por meio de sua arte, a bandeira da vida afro-brasileira? Tivemos e temos muitos guerreiros. Mas temos que saber quem somos, o que queremos, de onde viemos e, principalmente aonde queremos chegar.
“Ah! Essas histórias de agora
Escritas com Sangue e Coragem
São ainda as histórias antigas
Ah, Vovô Bartolomeu
Histórias tão antigas
Di contar todos os dias
Até o último escravo.
Si Vovô Bartolomeu fosse vivo
Si fosse mesmo vivo
À sobra daquela velha mulemba
Ainda na mesma carcomida cadeira
Espiaria o regresso dos netos
Di pai Sangue
De mãe Coragem.”
Hoje, nossa identidade está também nos modos de ser e estar. Está na vida que segue, infelizmente cheia de escravos dos novos tempos: sociais, virtuais, culturais… ainda vivemos num mundo de distorções. Por isso estou aqui e trouxe a minha – a nossa – história. Há que se saber dela e seguir em frente lutando por um mundo melhor: respeitando as culturas, as diferenças, promovendo direitos igualitários. Sim, este é o meu ideal: o pensamento motivador de um futuro melhor construído por e para todos nós. Sim, essa sou eu. Sim, estou em e com você…
Muito Prazer, Imperatriz Cubango.
Setorização sugerida:
A essência da Realeza Negra escravizada
Uma Realeza europeia tornando-se brasileira
Muito Prazer, Imperatriz Cubango
Referências:
Obras poéticas em ordem de citação:
Vila, Luiz Carlos da (2005). “Nas veias do Brasil” In: Um cantar a vontade. Musart Music.
CRUZ, Viriato (1961). “Mamã Negra (Canto de Esperança)” In: Poemas. Lobito.
COSTA, Andrade (1975). “Repousem as memórias” In: Poesia com Armas. Sá Costa.
TENREIRO, Francisco José. “Canção do Mestiço” In: Ilha de Nome Santo. S.I.
TENREIRO, Francisco José. “Mãos” In: Ilha de Nome Santo. S.I.
JACINTO, António (1974). “Outra vez Vovô Bartolomeu” In: Vovô Bartolomeu. Edições 70.
Outras fontes:
Sobre Rainha Njinga:
https://www.dw.com/pt-002/njinga-mbande-a-rainha-angolana-que-fez-frente-aos-portugueses/a-42579615
(Acesso em 19/09/2020)
Sobre Tereza de Benguela:
https://www.ufrb.edu.br/bibliotecacecult/noticias/220-tereza-de-benguela-a-escrava-que-virou-rainha-e-liderou-um-quilombo-de-negros-e-indios
(Acesso em 20/09/2020)
Sobre Imperatriz Leopoldina:
https://www.sohistoria.com.br/biografias/leopoldina/#:~:text=Esposa%20de%20dom%20Pedro%20I,poderosas%20cortes%20europ%C3%A9ias%20da%20%C3%A9poca.
(Acesso em 19/09/2020)
Samba Enredo
Compositores
Marcus Lopes, Abraão do Vai-Vai, Thiago Brito, Júnior Barreto e Davison Jaime
Intérpretes
Thiago Brito e Millena Wainer
LETRA DO SAMBA ENREDO
Negra realeza africana
Pura chama de viver
O poder de Oyá (Oyá Matamba)
Pro seu povo defender
Borboleta, voa! Em suas asas, valentia...
Contra a ira da "cobiça", tu és ventania!
Em sua sua dinastia, Leopoldina aprendeu:
Chegarás o dia e terás um reino teu!
São tantas alianças, tradições...
Na diplomacia dos salões
Veio de Viena para o Novo Mundo
Com sua Missão, rumos direcionar
Então Carolina, se torna Maria
Retrato de um povo a te aclamar
No corpo, a dor da chibata
Mas livre é a alma... oh, negra princesa
Tua força herdou esta terra: nada pode prendê-la!
Somos as cores da "tela", semente fraterna da miscigenação
Ressoa a voz que lidera o sonho da uma nova nação
Uma tem coroa e galardão, a outra tem nas guias seu axé
A raiz brasileira é mulher!
Meu sonho a eternizar sua real tradição
Brilha a coroa... reluz no meu pavilhão
A luta que buscou a igualdade
Cantar a liberdade é a minha raiz... Imperatriz
O Concurso de Samba de Enredo
O Samba Enredo foi encomendado
Compositores
Marcus Lopes, Abraão do Vai-Vai, Thiago Brito, Júnior Barreto e Davison Jaime
Intérpretes
Thiago Brito e Millena Wainer
LETRA DO SAMBA ENREDO
Negra realeza africana
Pura chama de viver
O poder de Oyá (Oyá Matamba)
Pro seu povo defender
Borboleta, voa! Em suas asas, valentia...
Contra a ira da "cobiça", tu és ventania!
Em sua dinastia, Leopoldina aprendeu:
Chegarás o dia e terás um reino teu!
São tantas alianças, tradições
Na diplomacia dos salões
Veio de Viena para o Novo Mundo
Com sua Missão: rumos direcionar
Então Carolina, se torna Maria
Retrato de um povo a te aclamar
No corpo, a dor da chibata
Mas livre é a alma... oh, negra princesa
Tua força herdou esta terra, nada pode prendê-la!
Somos as cores da "tela", semente fraterna da miscigenação
Ressoa a voz que lidera o sonho da uma nova nação
Uma tem coroa e galardão, a outra tem nas guias seu axé
A raiz brasileira é mulher!
Meu sonho a eternizar sua real tradição
Brilha a coroa... reluz do meu pavilhão
A luta que buscou a igualdade
Cantar a liberdade é a minha raiz... Imperatriz